Formatinho · 8 de maio de 2018

Ghost Wars: um herói millenial em uma série fantasmagórica ou algo mais?

Ghost Wars é uma fantasmagórica série sobre uma cidade pequena e isolada no cu do Alasca que passa a ser assombrada após um terremoto. Exibida na plataforma de streaming Netflix, tem apenas uma temporada com 13 episódios. O que me atraiu nela foi o fato de não ter ido pra uma segunda temporada (foi cancelada) e eu poderia concluir o arco narrativo em pouco tempo.

(só um adendo: vi toda série sem som no escuro do quarto enquanto a esposa e filha dormiam. Fotografia bonita, mas não posso falar do som ou jump scares, se tiver algum)

O ritmo é lento nos 4 primeiros episódios quando estão apresentando ao leitor a metatrama: um experimento científico que deu errado e fechou a porta do Além aos mortos, aprisionando-os no nosso mundo. Eles, então, se voltam contra os vivos e a contagem de corpos (e fantasmas) cresce exponencialmente.

Existem 3 núcleos de personagens: os orgulhosos habitantes da cidade, os funcionários da empresa Lambda (que realiza misteriosos experimentos) e Roman, um médium com história trágica e faz o elo entre o mundo dos vivos e dos mortos. Ele é acompanhado por uma crush camarada chamada Maggie.

De início, achamos que Roman — um tanto parecido com o Luan Santana — é o relutante protagonista da série. Mas, com o desenrolar da história, percebemos que há diversos personagens principais, cada um com um arco próprio a cumprir.

Roman não é o protagonista, mas o fio condutor da história. Enquanto a metatrama se desenrola, ele começa a descobrir a verdade sobre como o desaparecimento da mãe está entrelaçado com os segredos da sociedade de Port Moore. É legal que o superpoder dele é só acessar a dimensão dos mortos e se proteger da mesma. Ele não é um herói, mas alguém com uma tremenda vantagem sobre os demais cidadãos.

(Outra leitura que podemos fazer sobre ele é um herói millenial, no pior uso do termo: “sofre bullying, muito potencial, muito cobrado, pouco valorizado e acha que não deve nada a ninguém”.)

Com isso estabelecido, a série começa a contar com mais liberdade nas historietas de personagens menores. Ela se destaca justamente nesses episódios focados, como o que conta a relação da Bartender e do Policial. É uma verdadeira história de horror, capaz de impressionar alguns insones madrugada adentro. Podia ter rolado mais episódios assim.

Outros que merecem destaque são: aquele centrado na cética médica, o da floresta (mas poderia ser melhor), Doug (aê Meat Loaf!) e num outro que simpatizamos com o cafajeste Billy. Em uma dessas historietas descobrimos a personagem protagonista da série (não vou dizer quem). Os poderes dos fantasmas também são legais.

Alguns pontos fracos são: o plano do episódio final, os casulos (mal explorados), a Abigail e a mãe do Marcus, a Lambda, Glover (wtf), o padre Dan — cujo arco só serve pra encerrar as diversas pontas soltas da história (mas a aparição final da personagem é bem bacana) — a mãe do Roman, que aparece e some de uma forma bem aleatória, e a relutância do Roman.

Só às vezes ele atua como um verdadeiro meteoro da paixão contra os malvados fantasmas. E ainda rola uma falta de escrúpulos básica no finalzinho da série, após um pequeno momento redentor. Fica todo espertinho quando te interessa, não é mesmo, Roman?

Ghost Wars vale a pena por não tentar estender demais uma narrativa. Às vezes até tenta, mas no final acaba contando uma história bacana com alguns personagens simpáticos.