Esperava algo diferente de A Guerra do Velho, livro de John Scalzi. Ele é algo mais próximo de Tropas Estelares do que soldados da terceira idade usando exoesqueletos (como aquele que o Tom Cruise usa no filme No Limite do Amanhã), que foi o que entendi da sinopse:
A humanidade finalmente chegou à era das viagens interestelares. A má notícia é que há poucos planetas habitáveis disponíveis — e muitos alienígenas lutando por eles. Para proteger a Terra e também conquistar novos territórios, a raça humana conta com tecnologias inovadoras e com a habilidade e a disposição das FCD — Forças Coloniais de Defesa. Mas, para se alistar, é necessário ter mais de 75 anos. John Perry vai aceitar esse desafio, e ele tem apenas uma vaga ideia do que pode esperar.
Eu realmente imaginei que, por falta de buchas-de-canhão para guerras interestelares, as forças armadas passaram a apelar para pessoas da terceira idade. Seria uma analogia sobre como os velhos hoje são descartáveis e cidadãos de segundo plano. É o contrário do que ocorreu na I e II Guerras Mundiais, onde os mais velhos mandavam e os jovens eram “descartáveis”.
Mas entendi que os velhos do livro teriam alguma ajuda, talvez algo no estilo Elysium ou Gantz.

Em Elysium, Max, o personagem de Matt Damon, tem um exoesqueleto fundido ao próprio corpo. Isso dá um baita poder de luta a um cara com câncer. Por que não fazer o mesmo com idosos e colocá-los pra lutar nas forças armadas?

Em Gantz, série de quadrinhos japoneses sobre uma guerra invisível de humanos contra alienígenas, aparece um o personagem Yoshikazu Suzuki — que é chamado de Velho pelos outros companheiros de luta. Ele se vale de uma roupa especial que dá habilidades e características sobre-humanas.
Acabei a Guerra do Velho em quase uma tacada durante o carnaval desse ano. Fiquei decepcionado quando vi que, ao invés de exoesqueletos ou roupas especiais, os personagens ganhavam um corpo superpoderoso através de clonagem. Não é um Tropas Estelares com artrose ou doença de Parkinson, ou algo do gênero, como achei que era.
Os personagens se adaptam logo aos novos corpos e se adequam à mentalidade militar. Pra mim, alguém com uma bagagem de 75 anos teria problemas em se adaptar às forças armadas. Toda história de vida que eles têm ficam à mercê do exército, seja a criatividade do protagonista ou um PhD em Física.
No livro, há uma espécie de computador de bordo no cérebro deles que os auxilia em batalhas, estudos, etc — como o Jarvis nos filmes do Homem-de-Ferro. Todos os personagens dão apelidos machões-militarescos, como Cuzão, pra esses auxiliares virtuais. Pode ser clichê, mas esperava nomes como Elvis ou alguma figura cultural ou esportiva que curtissem (“Esse é o meio de campo que o Flamengo precisava”).
Quase não há espaço para melancolia ou saudosismo. Os personagens têm 75 anos e não lembro de ninguém reclamar da situação e querer voltar para um tempo na Terra “onde as coisas eram mais simples”. O protagonista volta e meia se lembra da falecida esposa, mas só. Claro que não gostaria de ler algo do tipo “Queria que minhas colegas de crochê me vissem agora”, mas há pouca introspecção pra personagens idosos. Pelo visto, velho sou eu.
Também esperava mais desenvolvimento de outros personagens. O protagonista tem uma síndrome de Seya (do Cavaleiro do Zodíaco), com algumas dificuldades, mas o leitor não tem dúvidas que ele vai triunfar qualquer situação que encontrar pelo caminho. Ia ser bacana se cada capítulo abordasse um dos colegas que ele faz amizade. Quando ocorre alguma morte, eu não me importei muito com isso.
Essa falta de desenvolvimento dos outros personagens ocorreu em prol de um plot pessoal do protagonista e talvez de um metaplot e gancho pra o outro livro da série As Brigadas Fantasmas.
No final, eu aguardava algo como Inuyashiki com guerras estelares. Pra quem não conhece, essa é uma série japonesa de quadrinhos sobre um senhor de idade, em estágio terminal de câncer e mal visto pela família, que morre após um erro de uns alienígenas. Eles então ressuscitam o protagonista, mas com um corpo de robô. Há a descoberta das novas capacidades, o pânico em lidar com a nova condição e a transformação dele em herói. É demais.

A Guerra do Velho vale a leitura. Há umas boas ideias e ritmo, mas tive dificuldades pra visualizar algumas das raças alienígenas. Pra mim, serviu como inspiração pra que eu possa tentar fazer algo mais próximo da sinopse que tinha imaginado: velhos e velhas com exoesqueletos/roupas especiais lutando uma guerra. Vamos ver se escrevo um conto sobre isso.
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