Li há um tempo Ichi: The Killer (Número Um: O Assassino) e curti um bocado. O mangá é sobre um assassino que faz trabalhos para um grupo de pequenos criminosos que foram expulsos do círculo mafioso do Japão e são obrigados a praticarem pequenos golpes pra sobreviver.
O bacana da história é que rola alguns mistérios e ficamos curioso para tentar entender a trama, o que está acontecendo, quem são as pessoas e como tudo vai se desenrolar.
Logo no início somos apresentados a Ichi, que destroça todos que ele enfrenta. Mas destroça mesmo. Não resta nada depois das lutas. E ele usa uma armadura, com uma espécie de tartaruga com o número Um escrito nela (daí o título do mangá). Outra coisa curiosa é que durante as lutas de Ichi ouve-se um choro desesperado. Depois encontra-se esperma na cena do crime. Tanto o choro quanto o esperma são de Ichi e durante a trama vamos descobrindo um pouco mais que o assassino impiedoso não é tão impiedoso assim. Muito pelo contrário.
Ichi, como vamos vendo, é um rapaz “comum”, que trabalha, se preocupa com os outros e procura “um outro alguém”. E treina exaustivamente artes marciais e por isso que ele sempre destroça todos aqueles que encara. E sofreu bullying pra caralho quando moleque e continua a sofrer mesmo agora na época adulta, sempre mostrando um sorriso no rosto quando o perturbam. É um operário comum que nas horas vagas é um assassino impiedoso. E tem muito mais coisa por trás.
Enquanto lia o gibi pensava bastante no Justiceiro, da Marvel — assassinos assombrados por fantasmas do passado -, e vi como o mangá Ichi era diferente. Apesar de ter uma premissa até certo ponto parecida (pessoas que sofrem um trauma muito grande e se vingam contra quem os oprimiu), Ichi tem outras nuances. É sadomasoquista que tenta encontrar carinho em uma prostituta que apanha do namorado. Um cara que se preocupa ao ver um moleque sofrendo bullying como ele sofreu e assim vai… e tem cenas zen como a abaixo, a gente nunca vai ver em uma história do Justiceiro.
E um momento zen no meio de toda a trama, com o personagem principal andando de bicicleta e comendo bolinho. Acho que só vi algo parecido em um gibi do Homem-Aranha e não do psicopata do Justiceiro:

Voltando à trama.
Um dos “pequenos criminosos” tem uma ideia diferente. O cabeça do grupo é o ‘Velho’. É quem organiza os golpe e mantém o grupo coeso e unido. E quem entra em contato com Ichi, que executa todos os planos do grupo — matando os inimigos ou quem quer que esteja no caminho deles.
Na história existe um prédio que é uma espécie de ONU do crime e abriga vários clãs de mafiosos japoneses, que, por estarem em um território neutro, não podem lutar entre si. E o “Velho” começa a criar uma rixa entre esses grupos. Kakihara, um mafioso, descobre o plano e começa a se movimentar para pegar o “Velho”.
E só para manter a linha “freak” do gibi, o mafioso é um baita S&M, que adora sofrer e ver os outros sofrerem. É uma espécie de Coringa da Yakuza. É um cara sinistraço, sagaz e sádico. E determinado.

Quando o grupo do Velho dá, com uma ajuda de Ichi, um chá de sumiço no chefe do Kakihara. Começa então um jogo de gato e rato entre o grupo do Velho e do Kakihara. As poucos o jogo se torna mais intenso, e mais personagens são envolvidos na história. Todos sádicos. Ou pelo menos passam a tomar gosto pelo sadismo. É puro “cão comendo cão”.
É de se perguntar se tem algum motivo nobre por trás de toda a história ou só uma sequência de acontecimentos terríveis pra escandalizar o leitor. E no final descobrimos que até existe sim um motivo nobre. Mas a maneira de chegar até esse objetivo nobre é que é bem torpe, a ponto de não se conseguir diferenciar direito quem é o mocinho e quem é o bandido nessa história toda.
O final tem alguma coisa de redenção para alguns personagens. Mas tem também uma pequeno detalhe só pra não deixar os leitores sem um gostinho de final feliz na boca.
Ichi é um mangá bem feito, com mais nuances que muitos gibis ocidentais e mega bem desenhado. É do Hideo Yamamoto, o mesmo cara que fez o mangá (também bem bacana) Homunculus, publicado no Brasil. Se eu fosse o Ministério da Justiça, diria que a classificação indicativa é só para maiores de 18 anos, já que tem assassinato, tortura e estupro. Se quiser, dá pra ler online aqui.
Como o Doggma Lembrou, fizeram um filme baseado no mangá. E parece que é muito mais violento que o gibi.
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